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Ter Menos Ser Mais

Encontre nas coisas simples a liberdade, a felicidade e a intencionalidade da vida

Ter Menos Ser Mais

Encontre nas coisas simples a liberdade, a felicidade e a intencionalidade da vida

Destralhe digital

Primeira semana

Imagem de Ylanite Koppens por Pixabay

Confesso que os primeiros dias foram, não diria difíceis, mas sem dúvida que faltava-me algo. Faltava-me ter ali à distância de “um braço” uma fonte constante de novidades.

 

Dei por mim a mexer demasiadas vezes no telemóvel esquecendo-me que já não tinha as redes sociais ativas. E por isso ficava aborrecida nos tempos mortos como uma criança sem brinquedos. Confesso que isso irritou-me e levou-me a questionar porque que precisava de estar sempre ocupada, quando muitas das vezes essa ocupação constante me deixava exausta e até me retirava tempo a coisas muito mais importantes.

 

Numa tentativa inconsciência de me manter ocupada dei por mim a consultar muito mais notícias e o Pinterest como forma de acesso as tais novidades a que o meu cérebro estava habituado. Decidi que não iria eliminar estas aplicações e que as iria consultar apenas quando quisesse pesquisar algo em concreto e não apenas para me entreter a ver fotos e notícias com ou sem interesse. Terei que adquirir aqui mais disciplina.

 

Ao final de 3 ou 4 dias o telemóvel deixou de ser tão interessante para mim e por isso não andava com ele sempre comigo em casa. Deixava-o muitas vezes em outra divisão porque este já não representava uma forma de distração.

 

Por outro lado dei por mim a tirar fotos e a pensar, que aquela foto seria bonita para publicar ao mesmo tempo que já pensava numa legenda. Como não a iria publicar fiz uma reflexão. Porque que queria expor aquele meu momento, ou um momento da minha família na internet? Mesmo que para amigos, apesar daqueles 300, talvez meia dúzia sejam efetivamente amigos com os quais gostaria de partilhar algo da minha vida. Porque iria expor aquele momento, mesmo sendo um momento bonito?

 

Para já, com apenas uma semana, o balanço é positivo. Passei a estar mais presente nas situações simples do dia a dia, mais presente para brincar com a minha filha, mais presente e com mais tempo para outras tarefas que me permitem aumentar a minha qualidade de vida diária porque esse tempo não está ocupado a olhar para um ecrã.


Por aqui continuo nos meus 30 dias de minimalismo digital!!

 

Slow Living - Alentejo

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A minha mudança da capital para uma Vila Alentejana prendeu-se com vários motivos, mas um deles que queria destacar, foi a necessidade de estar num lugar em equilíbrio com o meu estilo de vida Slow. Slow Living ou viver devagar é um movimento minimalista que tem como propósito viver uma vida de forma mais lenta, lenta não no sentido de preguiça ou de fazer menos coisas, mas sim de fazer as coisas com tempo, com propósito, estando presente. 

 

Todos nós conhecemos o discurso ou a sensação de que o dia deveria ter mais horas para fazer tudo aquilo que queremos, devemos ou deveríamos fazer. Parece que vivemos sempre em contra relógio e enquanto isso, os anos passam, os momentos passam, e nós um dia olhamos ao espelho e nem nos reconhecemos. 

 

O meu viver devagar começou ainda quando vivia na cidade, pois acredito que sendo um desejo nosso, o facto de viver numa cidade não o impede. Contudo também não permite viver em totalidade uma vida mais desacelerada porque estamos inseridos numa dinâmica urbana e temos de muitas vezes de andar dentro do ritmo. 

 

Para mim estes 4 grandes factores, que descreverei de seguida, foram aqueles pontos chave que a vida no Alentejo ajudou a equilibrar como o meu desejo e estilo de vida Slow. Factores que só aqui ou em lugares semelhantes é possível ter. No entanto, reforço, que nem todos precisamos "fugir" da cidade para ter um estilo de vida mais minimalista ou desacelerado, e nem todos nos adaptamos a este viver mais devagar, e a diversidade de estilos de vida é importante e deve ser valorizada, pois não existe certo ou errado no que diz respeito a forma como escolhemos viver. 

 

Silêncio

Onde vivo actualmente, quando pela manhã abro a janela, apenas ouço pássaros, ovelhas e as folhas das árvores. Este silêncio ou estes sons da natureza promovem uma enorme tranquilidade, reduzem o stress, e até melhoram o sistema cognitivo e o humor, segundo um estudo de Abril de 2021 publicado na revista “Proceedings of the National Academy of Sciences” e que posso comprovar diariamente. Todo o silêncio que me rodeia ajuda-me no foco daquilo que é mais importante porque não tenho fora do meu controlo factores distractivos. A tranquilidade do silêncio é algo que valorizo e me permite viver em tranquilidade e de forma equilibrada. 

 

Trânsito

O trânsito, ou melhor a ausência dele. Este foi um dos enormes factores de mudança para uma vida mais desacelerada. Não ter hora de ponta nem trânsito para me deslocar a qualquer lado, retira da rotina esta preocupação e este tempo perdido, assim como o stress e , por vezes, o desespero de estar preso no trânsito. É uma mudança e um aumento tremendo na qualidade de vida e faz com que qualquer deslocação necessária ou apenas por lazer seja feita tranquilamente a qualquer hora, sem pressas. 

 

Natureza

Viver a dois passos do campo, da natureza, tem vantagens que eu própria antes de vir para cá não entendia. Estar em contacto diário com a natureza para além de todos os benefícios psicológicos que trazem ao ser humano, seja pela calma que uma paisagem verde transmite, seja pela tranquilidade, permitir respirar ar mais puro entre outros, viver em conjunto com o mundo natural, do qual nós fazemos parte, permite-me ter consciência dos ciclos da natureza. Para além de me aproximar, presenciar e ter noção destes ciclos, faz com que eu própria esteja em sintonia com estes. Dou o exemplo das Oliveiras, a árvore que existem em maior quantidade. Já presenciei o rebentar da flor na primavera a sua queda no final desta, e o inicio do crescimento da azeitona. Em breve será época de apanhar e fazer o azeite. Presenciar os ciclos e fazer parte deles, saborear os legumes e fruta da época, observar a flor, a queda e o crescimento, tem sido uma experiência sensorial bastante enriquecedora. Esta sintonia deu-me uma noção de tempo diferente, e perceber que tudo demora o seu tempo, tudo precisa do seu tempo é importante. A natureza vive desacelerada e nós podemos aprender algo com ela. 

 

Espaço

A Vila onde vivo tem uma área de 26 quilómetros quadrados e uma população de cerca de 1200 habitantes. Portanto é espaço suficiente para a quantidade de habitantes o que faz com que não haja problemas relacionados a espaço. Desde estacionamento, trânsito, espaço para as crianças brincarem, mesa num café ou filas na mercearia. Acrescentando ainda a vantagem que existe espaço suficiente para manter as distâncias de segurança com as quais já nos familiarizamos no último ano e meio. Viver num sitio arejado em contraste com o viver na "confusão" ajuda-me a centrar no meu estilo de vida desacelerado e tranquilo que tanto procurava.

 

Estes foram para mim os 4 grandes motivos que se alinharam a ajudaram ao meu estilo de vida desacelerado. E tu também segues este movimento? Como desaceleras a tua vida?

O que a escacez pode ensinar

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Foi a cerca de um ano atrás, após o nascimento da minha filha, que tomei a decisão de ficar em casa como mãe a tempo inteiro por tempo indeterminado.

 

Ora para ficar sem trabalhar não basta querer, tem de haver condições para isso e como parece óbvio nesta situação o meu marido assumiu todas as despesas da casa.

 

Agora imaginem aumentar um membro à família e reduzir um ordenado (ainda que incerto) no orçamento total familiar. Foi preciso fazer alguns ajustes. 

 

A grande lição que tirei deste ano, foi que se não reduzirmos as nossas necessidades nunca estaremos satisfeitos.

 

Ora pensem, trabalhávamos para suprir as necessidades básicas e melhorar as nossas condições de vida, mas assim que passamos a ganhar mais passamos automaticamente a trabalhar também mais tempo e a querer, por isso, nos compensar de alguma forma. Normalmente adquirindo bens materiais, bens de consumo.

 

Os estudos demonstram que ao longo dos anos, apesar das nossas rendas aumentarem o nosso nível de felicidade tem se mantido relativamente estável, o que demonstra que não é a nossa riqueza material e monetária que nos trás felicidade. Gráfico em baixo mostra o caso Americano. 

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Ganhamos melhor, queremos melhores roupas, um melhor carro, uma casa maior, no fim das contas aumentamos de tal forma as nossas necessidades e por nunca estar satisfeitos pois queremos sempre mais e melhor. O tal consumo que nos leva a acreditar que a felicidade está em possuir coisas.

 

Não senti que neste último ano tenha estado em privação de alguma coisa (a não ser de sono 😝), a verdade é que nada me faltou. As minhas necessidades de alimentação, abrigo, segurança, saúde, higiene e conforto estiveram asseguradas e por isso percebi que pouco ao nada me falta. 

 

As minhas necessidades são menores o que me torna uma pessoa mais satisfeita com tudo aquilo que tenho. Valorizo muito mais os meus pertences e cuido melhor deles pois quero minimizar a necessidade de ter de adquirir coisas novas. 

 

De certo uma lição de que pouco precisamos para sermos felizes. Um ano minimalista para uma vida mais simples.

O minimalismo caiu sobre a minha (nossa) cabeça

Imagem de Free-Photos por Pixabay

Sete da manhã, espreito pela janela! O dia esta chuvoso, penso que assim é melhor, custa menos estar em casa quando chove lá fora. Por outro lado a chuva, o tempo cinzento também nos deixa a nós mais cinzentos... 

Questiono-me se vale a pena trocar o pijama...por um fato de treino. Valerá mesmo a pena? E aquelas calças novas que tinha comprado recentemente, para que as vou vestir dentro de casa? Ninguém as vai ver. Porque comprei, afinal, as calças? Para outros as verem? 

Os ovos acabaram...nunca me tinha apercebido como adoro comer ovos pela manhã! Eles nunca tinham faltado cá em casa...

Apesar de ter aguardado o maior número de dias possível é preciso ir ao supermercado. Mas não me sinto segura lá fora...e se trago alguma "coisa" para dentro de casa? Bem, calma! Vou só às compras... 

E se me cruzo com alguém dentro do prédio? Do elevador, na rua? Tenho medo dos outros e os outros têm medo de mim! Somos todos uma espécie de zumbies disfarçados de pessoas saúdáveis?! 

Todos os dias telefono aos meus pais, antes não tinha tempo....ou talvez tinha demasiadas desculpa para não ter tempo. Passei a arranjar tempo para ligar todos os dias... 

Agora sim, forçosamente foi obrigada a ver e a valorizar aquilo que é efetivamente mais importante e o que faz realmente falta para nos sentirmos bem, felizes, saudáveis.... não basta escrever teorias minimalistas, é preciso senti-las efetivamente...vive-las!!! 

 

Beneficios de uma casa minimalista

Imagem de Laney5569 por Pixabay

Para quem acompanha sabe que mudei de um t1 bem pequeno para um t2 com maiores dimensões, precisamente por ter falta de espaço e de arrumação, mas ao fim de poucos meses já o meu t2 não era suficiente e foi este mais um dos motivos que me levou a perceber que talvez eu teria eram coisas a mais e não espaço a menos. (Não é falta de espaço, são coisas a mais).

Desde que decorei e organizei a minha casa dentro de um estilo minimalista tenho confirmado os vários benefícios que uma casa mais simples e com menos coisas pode fazer por mim e pela minha vida.

 

Mais tempo para si - Esta é uma das grandes vantagens.  Pense limpar uma casa completamente vazia é muito mais fácil que limpar uma casa muito cheia de móveis, objectos decorativos ou a chamada tralha. Tem de aspirar todos os cantos ou retirar todos aqueles objectos de cima da sua mesa, desviar tapetes, lavar por baixo da cama que está cheia de caixas... Claro que não estou a sugerir ter uma casa vazia, mas o menos pode ser, neste caso, mais, mais tempo para si e para coisas que realmente lhe dão prazer fazer, afinal os tempos livres devem de ser ocupados da melhor forma. 

 

Menos stress na sua vida - Uma casa que tenha muita acumulação de coisas caminha, naturalmente, para a desordem por maiores que sejam os nossos esforços no sentido oposto. A desordem é uma stressante distracção visual. Uma casa minimalista promove a calma, o bem-estar e não sentimos que os nossos bens controlam o nosso tempo e sim que somos nós que estamos no controlo. 

 

Uma casa visualmente mais atraente - Quando vê imagens de casas, provavelmente aquelas que serão para si mais atraentes são aquelas que têm muito poucas coisas e que estão bastante organizadas e arrumadas. A verdade é que a maioria de nós é atraído por esse tipo de imagens. A sua casa também pode ser visualmente mais atraente ao se tornar mais simples. Ao dar ênfase a peças realmente bonitas e das quais gosta, ao dar espaço aquilo que realmente usa diariamente e que acrescenta valor à sua vida, arrumando no seu devido lugar aquilo que menos usa, deitando fora ou dando aquilo que não vai conseguir rapidamente ter uma casa digna de imagem no Pintarest.

São ou não bons motivos para simplificar e organizar a sua casa?

Quem quer ser minimalista?

Veja por onde começar

Imagem de Monfocus por Pixabay

Estava em 2016, num emprego que odiava e que estava a destruir a minha saúde mental (Post relacionadoA felicidade numa sociedade de consumo). Quando estava perto de um burnout consegui perceber e sair atempo. Despedi-me sem direito a nada mas com direito a recuperar a minha saúde. Estar num trabalho que quase destruiu aquele que é para todos o bem mais precioso, obrigou-me a parar e a repensar toda a minha vida. Estava em piloto automático e por isso mais vulnerável ao apelo consumista e acreditava que ter cada vez mais coisas seria o caminho para a felicidade.

Este foi para mim o click deu início ao meu processo minimalista. Se chegou até este post é porque talvez também já tenho o seu click

Não tem, necessariamente, de seguir esta ordem mas este pode ser um dos caminhos para uma vida minimalista, mais simples, com mais propósito, menos consumo e menos confusão. 

 

Destralhe a sua casa
Comece por destralhar a sua casa (Post relacionadoComo destralhar a sua casa). Não precisa começar a deitar tudo o que tem fora, até porque isso não seria nada ecológico. Este é um processo longo e demorado. Eu comecei por arrumar cada uma das divisões por sua vez e aos poucos foi percebendo o que realmente usava e o que já não me fazia falta. O destralhe é uma coisa que se treina. A principio é difícil perceber se queremos manter aquela camisola ou dar alguém, ou se precisamos daquele robot de cozinha multifunções que só usamos uma vez, mas com o tempo estas decisões passam a ser mais simples (Post relacionado - Nada do que não tenho me faz falta). Comece por uma gaveta e vai ver que a cada dia fica mais perto de ter uma casa sem acumulação e mais minimalista.

 

Consuma de forma mais consciente
Enquanto estava neste processo longo de destralhar a minha casa percebi que podia viver com muito menos do que imaginava. Se estava a reduzir os meus bens aos essenciais, então tinha muito pouca necessidade de adquirir coisas novas para a minha casa, para o meu roupeiro ou até para mim. Reduzir o consumo e fazer compras mais conscientes é uma das partes fundamentais do minimalismo (Post relacionadoDicas para compras mais conscientes). Comece por identificar onde gasta mais o seu dinheiro e se esse gasto é realmente importante para si e depois basta reduzir ou até mesmo eliminar. O importante é que tenha consciência do que está a adquirir para a sua vida e sua real importância, eliminando assim de todo as compras por impulso. (Post relacionadoDuas dicas para não mais se arrepender das suas compras)

 

Destralhe a sua vida

Aqui também é possível fazer um destralhe. Sabe aquelas pessoas com as quais não tem a mínima vontade de ir beber o cafezinho e deitar conversa fora, aqueles compromissos de fim de semana para os quais não faz questão nenhuma de estar presente. Não vá, diga que não! Cortar da minha vida amizades tóxicas, pessoas negativas e eventos dos quais eu não queria estar foi um caminho para uma vida mais simples. Viver aquilo que realmente quer viver é mais importante do que fazer aquilo que a sociedade acredita que deve de fazer. Elimine da sua vida todas as pessoas e tarefas que não o/a fazem feliz.

 

Viva com mais propósito 

Ao perceber que podia ser feliz com menos coisas e consumindo menos, automaticamente não precisava de ganhar muito dinheiro para manter um estilo de vida confortável e acima de tudo com propósito. Reduzir os bens materiais faz-nos dar valor as coisas que são realmente importantes na vida. Para mim ao abdicar desta necessidade de ganhar mais dinheiro para poder ter cada vez mais coisas, deu-me espaço para pensar naquilo que me realizaria enquanto profissional. 

Abdiquei dos ditos empregos tradicionais das 9h às 18h e de um ordenado fixo. Trabalho agora a recibos verdes num regime de prestação de serviços. Sou instrutora de Yoga e amo aquilo que faço, contudo, todos os meses o quanto vou ganhar o quanto vou trabalhar ou os meus horários são uma incógnita. Apesar desta "instabilidade" assustar muitas pessoas a minha volta, considero que não ter nada fixo até mesmo o ordenado é para mim uma forma de liberdade. 

 

A felicidade numa sociedade de consumo

Imagem de Michael Gaida por Pixabay

Domingo à noite, já me encontro numa espécie de sofrimento interno. Tento aproveitar os últimos momentos de descanso pois amanhã regresso ao trabalho. O fim de semana é sempre muito pequeno, passa rápido, parece nunca ser o suficiente para me sentir restabelecida.

Segunda 6h da manhã, toca o telemóvel para me despertar. A minha vontade é de ficar na cama, passa pela minha cabeça imagens do meu local de trabalho e percebo como o odeio tanto. Penso nas consequências de faltar um dia ao trabalho ou de chegar atrasada e em como isso representa um desfalque nas minhas contas já desfalcadas. Tomo banho faço a minha rotina matinal como se de um robot se tratasse. Não tenho sentimentos, faço por tenho de fazer, todos o fazem, é a vida. 

No comboio sento-me ao pé da janela, quando é possível. Aproveito para ouvir um pouco de música. Muitas vezes é isso que me dá motivação para sair de casa, poder ouvir alguns minutos de música enquanto observo a mesma paisagem todos os dias mas da qual não me canso. 

Chego ao trabalho, todos estão com a mesma cara que eu, todos referem que chatice é ser segunda-feira. Todos falam apaixonadamente do seu fim de semana. Sento-me em frente ao computador e inicio o meu trabalho. Quando vejo o que tenho em mãos odeio ainda mais a minha vida, odeio aquele trabalho e todo nele. As pessoas são todas mal pagas, amarguradas, invejam constantemente os bens uns dos outros como se todos não tivessem as mesma dificuldades. 

Apesar disso todos ostentam bons telemóveis, roupas e sapatos novos constantemente. Parece que trabalhamos para ter a possibilidade de nos vestir-mos bem para ir trabalhar.

Sou chamada a uma reunião, a equipa excedeu as expectativas, conseguimos os objectivos do mês mas não é o suficiente, nunca é o suficiente, querem mais. Saímos da reunião meio derrotados e com ordens para trabalhar ainda mais em troco de nada, por amor a camisola, porque a empresa precisa e, ou estamos com a equipa ou não estamos. 

Apesar da vontade de mandar tudo pelo ar tenho de ficar, preciso de emprego, preciso de estabilidade. Estabilidade... estabilidade de viver em sofrimento todos os dias! Não deixa de ser estável, amanhã será tão doloroso como hoje. 

Regresso a casa, a sensação de libertação é boa, mas demoro mais de uma hora a chegar o que me faz perder as forças para realizar todos os planos que tinha em mente assim que me livrei do trabalho. Ginásio, caminhada, ler um pouco...  já não tenho tempo nem disposição.

Recordo-me que amanhã tenho de recarregar o meu passe de comboio, a empresa ainda não pagou o ordenado o já vem sendo costume. A solução é igual a do mês anterior, comprar bilhetes a preço de ouro até que a empresa nos pague. 

Chego a casa, faço o jantar e preparo marmita do dia seguinte, desabafo com o meu marido o quão horrível foi o meu dia. Noto na expressão dele o cansaço de quem também trabalhou o dia todo e já conhece este meu discurso, no entanto, ouve de forma paciente. Sento-me no sofá e penso finalmente que vou ter um momento de descanso. A minha mente está demasiado cansada, passei o dia frente a um computador, já é tarde e amanhã tudo recomeça. 

Vou para a cama, na minha cabeça já passa em forma de filme todo o que tenho para fazer no dia seguinte e o quanto odeio o meu trabalho. Apesar da vontade de mandar tudo pelo ar tenho de ficar, preciso de emprego, preciso de estabilidade. Estabilidade... estabilidade de viver em sofrimento todos os dias! Não deixa de ser estável, amanhã será tão doloroso como hoje. 

Terça 6h da manhã, toca o telemóvel para me despertar. A minha vontade é de ficar na cama...

 

Esta já foi a minha realidade durante 2 longos e dolorosos anos, talvez também seja a sua...

Os documentários sobre minimalismo que todos deviam de ver

Imagem de Pexels por Pixabay

Pretende perceber em que consiste este estilo de vida minimalista, pretende ter uma maior consciência em relação ao consumo ou simplesmente por curiosidade estes são os documentários que tem de ver. No meu caso foi devido a um deles que despertei para esta temática e percebi realmente o caminho que estava a tomar e para onde pretendia realmente ir.

 

Minimalism: A Documentary About the Important Things

https://ourgoodbrands.com/what-is-minimalism/

Para mim os pais do minimalismo, Joshua e Ryan de 30 anos já tinham alcançado tudo, um bom emprego, progressão na carreira, casa carros... no entanto não estavam felizes. Trabalhavam muitas horas para pagar tudo aquilo que tinham e com a ambição de ter cada vez mais. Neste caminho sentiam que não eram donos do seu tempo e juntos descobriram o minimalismo. Estes dois autores actualmente ajudam mais de 2 milhões de pessoas a seguirem este estilo de vida quer através dos seus livros (ainda não disponíveis em português), do seu site The Minimalist, dos podcast disponíveis no You Tube ou do documentário na Netflix

A História de Joshua e Ryan é semelhante a de muitas outras pessoas que perceberam que ter menos seria o caminho para uma vida com mais propósito. Este documentário desperta-nos para várias questões, desde consumo ao espaço até a forma como andamos distraídos na tentativa de ter cada vez mais coisas.

Já revi este documentário várias vezes para me ir recordando daquilo de alguns conceitos, não me canso de o ver e por isso acho que se pretendem começar por algum lado para seguirem um estilo de vida mais simples, este é o documentário. Preparem as pipocas.

 

The True Cost

https://www.rsm.nl/about-rsm/news/detail/6302-the-true-cost-documentary-and-debate-on-wednesday-april-6/

O verdadeiro custo da moda! Foi por aqui que descobri o minimalismo. Este documentário despertou-me a atenção na Netflix e depois de assistir tive de repensar totalmente a forma como andava a consumir a moda. Neste documentário percebemos como funciona na realidade a industria da moda e como são uma das mais poluidoras, exploradoras dos mais pobres e com menos consideração pela saúde do mundo e do ser humano e como nós todos (muitas vezes sem ter consciência disso) compactuamos e contribuímos para isso.

Na altura pretendia criar um Blog de moda mas este documentário foi como um murro no estômago e nada disso já fazia sentido para mim. Entrei num processo onde comecei por criar meu Guarda Roupa Cápsula, fiz um destralhe na minha casa e na minha vida e nasceu assim o Ter Menos Ser Mais. 

 

Tidying Up with Marie Kondo 

https://www.joe.ie/movies-tv/life-lessons-tidying-up-marie-kondo-658263

Mais recentemente assisti a Magia da arrumação com Marie Kondo. Já conhecia os livros desta Japonesa guru da organização, nomeadamente o livro "Arrume a sua casa arrume a sua vida" e por isso quando o documentário saiu estava bastante curiosa. O documentário consiste na visita de Marie Kondo a várias famílias americanas. O que todas estas famílias têm em comum é uma casa cheia de tralha, com uma acumulação enorme de roupa, sapatos, livros, objectos de colecção... todas estas famílias se sentem assoberbadas no meio do excesso e referem que ter as suas casas assim é por vezes stressante e cansativo pois a mesma nunca tem um aspecto organizado. 

Neste documentário a autora explica também o seu método KonMarie para dobrar e organizar melhor qualquer peça de roupa. Sou fã destas dicas e já as uso desde a época que li o livro. Portanto se precisa de uma motivação extra para atacar o seu roupeiro e reduzir a confusão em sua casa e quer saber as melhores técnicas de organização tem de assistir ao documentário desta pequena e amorosa deusa do destralhe. 

 

Tiny House Nation 

https://whatsnewonnetflix.com/norway/1616594/tiny-house-nation-2019

Não sendo este um documentário exactamente sobre minimalismo é possível perceber que todas estas famílias estão a procura de uma vida mais simples e começaram por reduzir o espaço em que vivem. Todas elas vão viver para pequeníssimas casas e assim livraram-se da despesa da renda de casa e de muitos outros bens materiais. Vale apena assistir até porque todas as casa ficam lidissimas e têm excelentes ideias de como aproveitar bem o espaço.

Se tivesse coragem (vá e também algum dinheiro) contruía uma destas casas, até lá vou-me inspirando com estes episódios que entretanto saiu recentemente a segunda temporada. Já tenho programa para este fim de semana. 

 

Deixo estas sugestões para o fim de semana de chuva que se avizinha. Qual vai querer ver primeiro?

Nada do que não tenho me faz falta

Imagem de DarkWorkX por Pixabay

Nesta minha viagem pelo minimalismo, que se iniciou em 2016 após um longo período de desemprego, foram muitas as coisas das quais me desfiz, que dei ou vendi e que deitei fora.


Um dos argumentos que mais usamos para nós próprios quando estamos num processo de destralhar a nossa casa (ou/e a nossa vida) é que aquilo pode um dia ainda vir a ser útilFoi a pensar desta forma que durante anos acumulei muita coisa inútil (para mim) e, grande parte das vezes, o dia em que tal objeto voltaria a ser útil nunca chegou.

 

Agora, se houve vezes em que abdiquei de alguma coisa e posteriormente vim a precisar desse mesmo objeto? Sim, já aconteceu. Mas foram coisas tão pouco significativas que não me consigo recordar que coisas foram exatamente. Ou seja a ausência de tais objetos não causou um imprevisto tão grande na minha vida ao ponto de necessitar de voltar a comprar o que achava que já não precisava.

 

Foi nestas pequenas situações que percebi que o pior que pode acontecer quando destralhamos a nossa casa é abdicar de algo que possa vir a ser útil novamente mas que essa falta é tão pouco significativa que não cause nenhum transtorno que não seja facilmente solucionável.

 

Somos apegados em demasia aos bens materiais, ficamos com muita pena de abdicar de coisas que já não nos são úteis, já não nos servem, já não estão alinhadas connosco e com a nossa forma de estarmos na vida, mas por algum motivo sentimos receio de deixar de parte aquele objeto.


Para ultrapassar este "medo" passei a perguntar a mim própria, quando foi a última vez em que aquilo me foi útil e a questão mais importante, no caso de me desfazer daquilo o que de pior pode vir a acontecer? A resposta é sempre a mesma, o que de pior pode vir a acontecer é ter de comprar novamente, situação que em três anos nunca aconteceu. Quando ultrapassamos este receio é percebemos que são apenas coisas rapidamente entramos num processo minimalista, sem pesos na consciência nem sentimentos de culpa ou de perda.

 

Por onde começar:

Comece por se perguntar a si mesmo/a quando foi a última vez que usou aquele objeto. Se no último ano não usou ou se nem se recorda da última vez então já sabe o seu destino. Dar,vender reciclar e, atenção, só por último deitar fora.

Preparado para iniciar o destralhe da sua casa/da sua vida?