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Ter Menos Ser Mais

Encontre nas coisas simples a liberdade, a felicidade e a intencionalidade da vida

Ter Menos Ser Mais

Encontre nas coisas simples a liberdade, a felicidade e a intencionalidade da vida

O que a escacez pode ensinar

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Foi a cerca de um ano atrás, após o nascimento da minha filha, que tomei a decisão de ficar em casa como mãe a tempo inteiro por tempo indeterminado.

 

Ora para ficar sem trabalhar não basta querer, tem de haver condições para isso e como parece óbvio nesta situação o meu marido assumiu todas as despesas da casa.

 

Agora imaginem aumentar um membro à família e reduzir um ordenado (ainda que incerto) no orçamento total familiar. Foi preciso fazer alguns ajustes. 

 

A grande lição que tirei deste ano, foi que se não reduzirmos as nossas necessidades nunca estaremos satisfeitos.

 

Ora pensem, trabalhávamos para suprir as necessidades básicas e melhorar as nossas condições de vida, mas assim que passamos a ganhar mais passamos automaticamente a trabalhar também mais tempo e a querer, por isso, nos compensar de alguma forma. Normalmente adquirindo bens materiais, bens de consumo.

 

Os estudos demonstram que ao longo dos anos, apesar das nossas rendas aumentarem o nosso nível de felicidade tem se mantido relativamente estável, o que demonstra que não é a nossa riqueza material e monetária que nos trás felicidade. Gráfico em baixo mostra o caso Americano. 

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Ganhamos melhor, queremos melhores roupas, um melhor carro, uma casa maior, no fim das contas aumentamos de tal forma as nossas necessidades e por nunca estar satisfeitos pois queremos sempre mais e melhor. O tal consumo que nos leva a acreditar que a felicidade está em possuir coisas.

 

Não senti que neste último ano tenha estado em privação de alguma coisa (a não ser de sono 😝), a verdade é que nada me faltou. As minhas necessidades de alimentação, abrigo, segurança, saúde, higiene e conforto estiveram asseguradas e por isso percebi que pouco ao nada me falta. 

 

As minhas necessidades são menores o que me torna uma pessoa mais satisfeita com tudo aquilo que tenho. Valorizo muito mais os meus pertences e cuido melhor deles pois quero minimizar a necessidade de ter de adquirir coisas novas. 

 

De certo uma lição de que pouco precisamos para sermos felizes. Um ano minimalista para uma vida mais simples.

A felicidade numa sociedade de consumo

Imagem de Michael Gaida por Pixabay

Domingo à noite, já me encontro numa espécie de sofrimento interno. Tento aproveitar os últimos momentos de descanso pois amanhã regresso ao trabalho. O fim de semana é sempre muito pequeno, passa rápido, parece nunca ser o suficiente para me sentir restabelecida.

Segunda 6h da manhã, toca o telemóvel para me despertar. A minha vontade é de ficar na cama, passa pela minha cabeça imagens do meu local de trabalho e percebo como o odeio tanto. Penso nas consequências de faltar um dia ao trabalho ou de chegar atrasada e em como isso representa um desfalque nas minhas contas já desfalcadas. Tomo banho faço a minha rotina matinal como se de um robot se tratasse. Não tenho sentimentos, faço por tenho de fazer, todos o fazem, é a vida. 

No comboio sento-me ao pé da janela, quando é possível. Aproveito para ouvir um pouco de música. Muitas vezes é isso que me dá motivação para sair de casa, poder ouvir alguns minutos de música enquanto observo a mesma paisagem todos os dias mas da qual não me canso. 

Chego ao trabalho, todos estão com a mesma cara que eu, todos referem que chatice é ser segunda-feira. Todos falam apaixonadamente do seu fim de semana. Sento-me em frente ao computador e inicio o meu trabalho. Quando vejo o que tenho em mãos odeio ainda mais a minha vida, odeio aquele trabalho e todo nele. As pessoas são todas mal pagas, amarguradas, invejam constantemente os bens uns dos outros como se todos não tivessem as mesma dificuldades. 

Apesar disso todos ostentam bons telemóveis, roupas e sapatos novos constantemente. Parece que trabalhamos para ter a possibilidade de nos vestir-mos bem para ir trabalhar.

Sou chamada a uma reunião, a equipa excedeu as expectativas, conseguimos os objectivos do mês mas não é o suficiente, nunca é o suficiente, querem mais. Saímos da reunião meio derrotados e com ordens para trabalhar ainda mais em troco de nada, por amor a camisola, porque a empresa precisa e, ou estamos com a equipa ou não estamos. 

Apesar da vontade de mandar tudo pelo ar tenho de ficar, preciso de emprego, preciso de estabilidade. Estabilidade... estabilidade de viver em sofrimento todos os dias! Não deixa de ser estável, amanhã será tão doloroso como hoje. 

Regresso a casa, a sensação de libertação é boa, mas demoro mais de uma hora a chegar o que me faz perder as forças para realizar todos os planos que tinha em mente assim que me livrei do trabalho. Ginásio, caminhada, ler um pouco...  já não tenho tempo nem disposição.

Recordo-me que amanhã tenho de recarregar o meu passe de comboio, a empresa ainda não pagou o ordenado o já vem sendo costume. A solução é igual a do mês anterior, comprar bilhetes a preço de ouro até que a empresa nos pague. 

Chego a casa, faço o jantar e preparo marmita do dia seguinte, desabafo com o meu marido o quão horrível foi o meu dia. Noto na expressão dele o cansaço de quem também trabalhou o dia todo e já conhece este meu discurso, no entanto, ouve de forma paciente. Sento-me no sofá e penso finalmente que vou ter um momento de descanso. A minha mente está demasiado cansada, passei o dia frente a um computador, já é tarde e amanhã tudo recomeça. 

Vou para a cama, na minha cabeça já passa em forma de filme todo o que tenho para fazer no dia seguinte e o quanto odeio o meu trabalho. Apesar da vontade de mandar tudo pelo ar tenho de ficar, preciso de emprego, preciso de estabilidade. Estabilidade... estabilidade de viver em sofrimento todos os dias! Não deixa de ser estável, amanhã será tão doloroso como hoje. 

Terça 6h da manhã, toca o telemóvel para me despertar. A minha vontade é de ficar na cama...

 

Esta já foi a minha realidade durante 2 longos e dolorosos anos, talvez também seja a sua...